A primeira infância e o desenvolvimento das crianças

Corresponde ao período que vai desde a concepção do bebê, sua gestação, até os seis anos de idade da criança. É etapa fundamental para o desenvolvimento de qual- quer pessoa e as experiências desse período são levadas para o resto da vida.

Nesse momento é estabelecida a base que virá a determinar as competências, as habilidades emocionais e todo o processo de conhecimento do adulto.

A qualidade dos primeiros cuidados interfere no desenvolvimento da criança. Du- rante esses anos iniciais ela vive grandes e determinantes mudanças, como o crescimento

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físico, o amadurecimento do cérebro, a aquisição da linguagem e dos movimentos, a ca- pacidade de aprendizado, a formação da personalidade e a iniciação da interação so- cial e afetiva.

Essa é a fase em que a criança aprende mais, se relaciona e desenvolve importan- tes valores a partir de suas experiências em família, na escola e na comunidade.

É fundamental que nos primeiros anos todas as crianças possam viver em ambientes saudáveis para o desenvolvimento delas, principalmente na questão social e emocional, incluindo aí a empatia. Isso se faz com cuidadores, familiares ou não, com capacidade de vínculo, de forma a permitir que os pequenos se sintam amados.

“Quando você toca ou massageia uma criança e, ao mesmo tempo, fala com ela com delicadeza, você estimula o sistema nervoso, que é a integração de várias áreas do corpo humano. Outra coisa extremamente importante é o convívio, o vínculo afetivo que os cuidadores estabelecem com a criança. Afeto é alimento para o desenvolvimento ce- rebral e para o desenvolvimento da empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro”, afirma João Figueiró.

Boa nutrição, afeto, inteiração com as pessoas, brincadeiras, segurança e estímulos amorosos, tudo disponibilizado nos primeiros anos de vida, são pontos fundamentais para a constituição de um indivíduo. Seria como erguer a estrutura que sustentará a construção de uma casa.

Priorizar a primeira infância é estratégia comprovadamente mais eficaz de se esta- belecer o alicerce de uma sociedade saudável em todos os sentidos

Primeira infância – quando o cérebro se desenvolve
A ideia de que a primeira infância é período decisivo na formação da personalida- de, do caráter e do modo de agir do adolescente e do adulto encontra suporte em dados

recolhidos nos últimos 100 anos de pesquisas científicas.
Achados recentes da Neurociência oferecem evidências de que acontecimentos

precoces de natureza física, emocional, social e cultural permanecem inscritos nas pesso- as por toda vida.

Todos nós construímos um mapa da realidade a partir das experiências vividas na infância. Assim, é possível, e muito mais eficiente, lançar os valores e fundamentos éticos da cidadania e da cultura de paz nessa primeira fase da vida, uma vez que a criança é dotada de capacidade absorvente, isto é, ela é aquela que tudo recebe julga com ima- turidade, pouco recusa ou reage. Absorve e estrutura a personalidade do futuro adulto. É a criança que constrói seu conteúdo mental a partir do alimento afetivo e social que rece- be e assim “acumula” experiências que serão utilizadas para a condução de sua vida.

O desenvolvimento cerebral

Entre o nascimento até três anos de idade áreas específicas do cérebro são desen- volvidas – regiões associadas às emoções, aos contatos interpessoais, aos padrões de fun- cionamento, ao caráter, à personalidade e à aprendizagem.

Nas últimas duas décadas, progressos no campo da neurociência têm revelado de- talhes do funcionamento cerebral. O período mais ativo acontece realmente nos primeiros anos de vida, quando de 700 a 1.000 novas conexões neurais são formadas por segundo(a partir, sobretudo, de estímulos e interações com os pais, cuidadores, demais membros da família e outras crianças). São esses bilhões de ligações que permitem a rápida comuni- cação entre as várias partes do cérebro, cada uma com função específica. Vale destacar que 90% das conexões cerebrais são estabelecidas até os seis anos.

Se a criança for negligenciada nessa fase, muitas ligações entre os neurônios dei- xam de acontecer, o que pode afetar seu potencial de aprender e de se desenvolver.

Desenvolvimento do cérebro da criança

Durante o processo de desenvolvimento do cérebro nessa fase inicial da vida, re- presentada pela formação de sinapses, são formadas as bases para as aquisições das capacidades físicas, intelectuais e emocionais da criança. Após esse momento, há um expressivo decréscimo na composição dessas sinapses.

Primeira infância negligenciada e seus efeitos

Recentes pesquisas científicas demonstram que a criança, com carências afetiva, econômica e social pode não desenvolver plenamente seu cérebro. Falta de alimentação adequada, ausência de interação socioeducativa saudável, de afetividade, de acolhi- mento familiar e social, de segurança em relação à sua integridade física e afetiva, falta de estímulos cognitivos, são alguns dos pontos que contribuem na deficiência do desen- volvimento infantil.

O estresse causado por tais experiências (prolongadas ou frequentes) torna-se tóxi- co, pois o cortisol – hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, cuja função é ajudar o organismo a controlar o estresse e a reduzir inflamações -, quando em excesso atrapalha os circuitos cerebrais, sobretudo durante a primeiríssima infância (até os três anos de ida- de).

Infelizmente esse cenário ainda é presente na frágil realidade da maioria das crian- ças no Brasil.

Essa adversidade inicial gera a probabilidade de atrasos no desenvolvimento, po- dendo levar a problemas ao longo da vida. Adultos com mais experiências adversas sofri- das nos primeiros seis anos de vida são mais propensos a ter problemas de saúde, incluindo alcoolismo, depressão, doenças cardíacas e diabetes.

Impacto de adversidades no desenvolvimento na primeira infância

Crianças criadas em condições de pobreza, por exemplo, têm mais dificuldade para aprender, não só por questões socioeconômicas, mas também biológicas. Pesquisas realizadas comprovaram que a pobreza tem impacto direto no desenvolvimento do cére- bro, justamente no período mais crítico da infância, deixando sequelas neurológicas que diminuem a capacidade de aprendizado.

Cientistas norte-americanos conduziram estudo para procurar a causa da dispari- dade no progresso linguístico / acadêmico entre crianças de diferentes origens socioe- conômicas. Por 2,5 anos, crianças de 7 meses de 42 famílias foram observadas por uma hora por semana até elas completarem 3 anos de idade.

Essa avaliação foi uma das primeiras a vincular explicitamente o tamanho do vo- cabulário ao status socioeconômico e não à presença de um possível distúrbio de lingua- gem e demonstrou a importância do conhecimento prévio durante a avaliação e a inter- venção.

Disparidades no crescimento do vocabulário precoce

Hoje se entende que investir na primeira infância é fator chave para a redução da pobreza, das desigualdades, proporciona melhoria da cidadania e da saúde social como um todo!
É necessária uma maior consciência da população em relação à importância desse pe- ríodo, só assim haverá mudanças efetivas na atenção à primeira infância.

“Como as pessoas não têm ideia de quão impactante isso é na vida de um país, a população também não cobra de maneira incisiva. Então, a informação é o primeiro passo.

Isso inclui o noticiário da televisão, a conduta das pessoas que são modelos e exempla- res na sociedade. A mídia e o poder público têm papel primordial na educação das pes- soas, são guias, são modelos e exemplos que a sociedade segue. A medida para se criar um caminho diferente nas próximas gerações é fazer prevalecer a moralidade, a ética e a correção de todas as pessoas, principalmente daquelas que estão em contato com as crianças nas suas fases mais críticas”, afirma João Figueiró.

É essencial que a sociedade exija a criação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da criança durante a primeira infância. O investimento nessa fase pode gerar uma reação positiva em cadeia que promove ganhos de capital econômico e hu- mano ao longo do ciclo de vida.

Cientistas usam o termo ‘janelas de oportunidades’ para explicar esses primeiros anos de vida, pois são os melhores para desenvolver estruturas de pensamento, de emo- ções, de interações, e que isso deve ser aproveitado porque mais tarde as ‘janelas’ podem se fechar e as oportunidades não serem tão eficientes.

Ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2000, James Heckman, professor emé- rito de Economia na Universidade de Chicago, nos EUA, afirma que investir nesse período é o que dá mais retorno para a sociedade. Ele indica queum futuro melhor começa com a tarefa de criar melhor as crianças. Quando elasrecebem incentivos educacionais e de- senvolvem capacidades diversas, desde o início de sua vida, terão mais chances de se tornar adultos bem-sucedidos.

A educação é crucial para o avanço de um país e, quanto antes chegar às pes- soas, maior será seu efeito e mais barato ela custará. Tentar sedimentar num adolescente o tipo de conhecimento que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes, sai algo como 60% mais caro”, sinaliza Heckman.

Fonte: www.zeroaseis.org.br

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